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História do Navio

O Navio Hospital "Misericórdia do Mar"

 

E foi também então que começou a segunda parte da história do nosso navio. Era agora um robusto navio hospital de 2274 tdw, 98.450 m de comprimento, 5.490 m de calado, velocidade de 12.5 nós e capacidade para 72 tripulantes, 6 passageiros e 74 doentes. E, o que era uma inovação na época, dispunha de câmaras frigoríficas para fornecimento de alimentos frescos. Com efeito, todos sabemos, e Os Lusíadas disso fazem um eco dramático, que a sua falta é causa directa do escorbuto, doença de que sofria a "frota branca" dos nossos lugres veleiros da Terra Nova. Uma das missões do velho Gil tinha sido, por isso, a de adquirir animais em terra para abate destinado ao consumo alimentar. Com tantos bois, porcos e galinhas a bordo, chamava-lhe o humor dos nossos pescadores a "Arca de Noé". Agora, com os meios de frio de que este novo navio era dotado, podia haver carne fresca diariamente e sem dependência directa de terra. Foi a obra nº 15 dos estaleiros vianenses, entregue em 1955 ao Grémio dos Armadores de Navios da Pesca do Bacalhau.

A vida a bordo era difícil. Os momentos de lazer, nas poucas horas que sobravam entre o sono, a pesca e o amanho do bacalhau, passavam-se vendo filmes e jogando cartas. Uma rara distracção era uma visita a St John's, onde as populações terranovenses continuavam a acarinhar estes sacrificados do mar que eram os nossos pescadores. Mas agora a frota dispunha dum capelão para assistência religiosa, um desabafo humano, ou para dirimir pequenos conflitos. É o que em primeira análise podemos colher de dois diários de bordo do capelão que mão amiga me fez chegar à mesa de trabalho. Também deles poderemos respigar, quando se lhes fizer uma edição crítica, casos de contrabando, as boas relações com os esquimós, e também o afundamento de navios para beneficiar do seguro, e tantos casos humanos, que, por o serem, têm sempre o anverso do sacrifício e da abnegação, e escondem por vezes um reverso menos de louvar.

 

Nos bancos da Terra Nova, o Gil Eannes, além das funções de navio hospital que lhe mereceu a alcunha de "Misericórdia do Mar", distribuía correio, procedia a abastecimentos em víveres, combustível, apetrechos de pesca e isco,