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Navio Hospital

Sendo efectuadas, por época de pesca, cerca de 4000 a 4500 consultas, ficavam internados a bordo, aproximadamente e por campanha, 400 doentes acidentados ou com doenças de menos gravidade. Executavam-se por época cerca de seis a sete dezenas de intervenções de grande cirurgia, cerca de duas centenas de extracções dentárias, inúmeros exames radioscópicos, um sem número de análises e, variadíssimas intervenções diárias de pequena cirurgia.


Nesta faceta de Navio Hospital, talvez a mais importante de todas as desempenhadas ao longo de uma época de pesca, permitam-me que destaque duas acções que servirão para ilustrar a que extremos se chegava na ânsia de salvar vidas ... Decorria um dia normal de assistência nos bancos da Groenlândia e, quando estávamos a entregar isco a um dos navios, fomos subitamente alertados pelo N/m "Sernache" que necessitava urgente assistência para um pescador que tinha sofrido um acidente e estava em muito más condições. O N/m "Sernache" não se poderia deslocar ao nosso encontro por ter todos os botes na água. Imediatamente paramos a assistência que estávamos a prestar e rumámos para a posição do N/m "Sernache".


Resumindo, o acidente poderá descrever-se assim: o N/m "Sernache" estava a fundear em águas muito profundas com um ferro mais leve, suspenso de um cabo de arame que, por sua vez, estava enrolado num sarilho de ferro. Ao cair em queda livre, a âncora esticou subitamente o arame o qual movimentou com muita rapidez o sarilho, fazendo saltar um braço deste que, por infelicidade, acertara com violência no temporal direito de um pescador. Fractura de crânio evidente, com derrame de massa encefálica, que vinha agarrada à sonda quando se pesquisava o ferimento. A operação era muito melindrosa dada a proximidade do local atingido dos nervos óptico e auditivo. O Navio teria de estar o mais estável possível e isso era impossível de conseguir no mar aberto do estreito de Davies. Para auxiliar os médicos o mais possível, dentro do meu campo de actuação e responsabilidade, conduzi o navio para largas milhas no interior do fjord de Amerdlock onde o mar estava calmo como um espelho e onde, também mandei parar todos os motores de bordo para acabar com todas as trepidações. A operação decorreu à luz de baterias durante cerca de seis horas. O objectivo foi totalmente atingido e o Homem foi salvo graças à competência dos Drs. Boffa Molinar e Abílio B. Canhão e, também, ao espírito de missão que nos acompanhava a todos e que, sem esforço aparente, nos levava aos maiores esforços e sacrifícios.